PaPos Nascentes - poéticos, psicoterapia, mentoria

Powered By Blogger

segunda-feira, agosto 19, 2013

TREZE POEMAS E UMA FUGA

Papos Nascentes recebe 13 poemetos e uma fuga em língua materna nascidos em madrugada torrencialmente produtiva. Aspirantes à amplidão, gostariam mesmo é de serem bilíngues, oscilando do Brasileiro (jeitinho doce de falar Português) ao Esperanto (jeitinho esperto de dar um chega pra lá na barreira das línguas).

A fuga fui encontrá-la escondida debaixo de um temor ao ridículo. Ao me ver, fechou os olhinhos, como fazem as crianças, supondo assim anularem perigos do mundo. A fuga se deu pela crença forte, quem sabe infantil, na minha incapacidade de recriar cada um dos 13 poemetos em Esperanto, já que poemas não se traduzem, mas se recriam de língua para língua, com artimanhas de poeta...

Assim, nasce o tímido pedido. A recriação desses 13 poemetos se faça leve e prazerosa brincadeira de criança. Sem a seriedade pesada do adulto, em geral esmagado por urgências tão inadiáveis quanto desimportantes... Fica o convite à sua criança. Que ela tome pelas mãos o adulto que quer brincar de melhorar o nível de expressão em Esperanto. E só de brincadeira ingressa na equipe de traduto..., digo, de recriadores de poemetos, não importa quantas outras crianças estejam também na ciranda. Ciranda cirandinha vamos todos cirandar!


1.           AMPUTAÇÃO
só o que conta
computo
só se me dispo
disputo
por duas vezes
reputo
e não tem
meu pé me dói:
amputo
puto
e puto!



2.           DOIDO DOÍDO
é doação?
doo
é doeção?
também doo
e a duração?
perdoo?
antes me atordoo



3.           SEM TEMPERO
estive doido
estou doído
(na comunicação
o ruído)
endoideci
adoeci
(na alma
agrura: o roído)
na amargura,
algum milagre?
― to no vinagre!
do fim do ardor
algum sinal?
― to no sal!



4. DUPLAS
a fé e o fel
o amém e o mel
a dor e o odor
(odor do ardor?)
a harpa a carpa
e o arpoador
a farpa e sua escalada
(a escapada e a escarpa)
a cerca e o circo
(e acerca do cisco)
o petiz e o circo:
um petisco!
a marca e o carma
que a carne marca
a busca e o lusco-fusco
o apocalipse
e esta
besta
do após calipso
     eu, besta
     ― e basta!



5.           FULGOR FUGAZ
a folha em banco
          em branco
não passa
― ou é falha!
o poema é o branco
da folha
por trás do trilho
do estribilho
por trás das letras
                 pretas
portais
(do brilho?)



6.           CURTO
três versos
onomásticos
ou no máximo
uni
      verso!



7.           EPA!
o espaço no papel
o tempo insone do poeta
o papel do poeta
o passatempo da insônia
doída da ida
(sem volta?)



8.           NÃO BROMETO NADA
que poemeto
meto
neste canto?
brometo!
suicídio?!
(por cianeto
de potássio)




9.           FINURA
Text
       í
       c
       u
       l
       o
assim
com
pac
to
fura
o
pa
ca
to
cura
o
pe
ca
do?!



10.        DE CIMA
rima
com pés
quebrados
rima
com nada
aí em cima
(essa dor
não fode
nem sai...)



11.        OBRA
na dobra
o poema
se desdobra
e recobra
o tema
(essa lua
macabra!)
comovidos
o diabo
e o conhaque



12.        DOZE?
dose!
me larga!
a vida
é 12
ou amarga?



13.        DESTILAÇÃO DESTILAMENTO
deste lado,
o sofrimento
se faz poesia

destilada,
a poesia
escorre a vida

lado avesso
da vida
é o verso
do verso
do avesso
da vida

avesso
a trocadilho,
apenas converso
a trocar
idílio

destilado
o iso-lamento
deste lamento
deste alimento

desta alimária!

quinta-feira, agosto 15, 2013

VE(R)KIĜO / DESPERTAR

poem' verkiĝas:
'ĝin verkis mi!'
poeto vekiĝas
danke al Poezi'
(vekiĝ' sen kri'!)

- ĉu iluzi'?
- aŭtor malĉeestas
nur Vivo festas
kaj silentas
kvazaŭ Poezi'



poema surge:
'eu escrevi!'
poeta desperta
Poesia urge
(sussurro alerta!)

ilusão seria?
autor ausente
só a Vida (festa)
sorri silente
como a Poesia

segunda-feira, agosto 12, 2013

IDIOMA INTERDITO / IDIOMO INTERDIKTA


no espaço exíguo
o poema do amor à míngua
no espaço contíguo
teu amor na minha língua

     e minha língua no teu dorso
     degusta teu reverso
     e tua língua lambe meu esforço
     e saboreia lenta o sêmen do meu verso

                                                    (In: Sobrevida)

************

en la malgrando spaca
mi ampoeme malsatas
apudloke surfaca
vi amolange lingvatas

     mi langas vin dorse
     gustumas vin reverse
     leko via nerimorse
     glutas mion semoverse


(Esperantigita de Adonis Saliba)

POEMA DO ESCREVER / POEMO DE L' VERKADO


escrevo porque escuro

então clareio

escrevo porque não sei

então nomeio

escrevo porque oculto

na pele da noite

então escavo coço caço

palavra poema imagem

escrevo porque me instigas

com suas leituras

novas torturas do expressar

escrevo porque me cura

a palavra e sua lavra e procura

escrevo porque me inventa

a invenção que teço

e me aconteço

autor do meu dizer disperso

sombra sufocada em cada verso

escrevo enfim porque tô a fim

de surpreender nas possíveis leituras

por que essa libertação

me fazer mais escravo do escrever

     com a fúria do me escavar


Verkas mi pro tiu mallum’
do mi lumas
Verkas mi pro nesci’
do mi nomumas
Verkas mi kaŝite
sub noktohaŭt’
do mi prifosas jukas ĉasas
vorton poemon imagon
Verkas mi pro via instigo
per via legado
al freŝa esprimtorturo
Verkas mi ĉar min kuracas
la verkoserĉa kulturado 
Verkas mi ĉar inventas min
mia teksa inventado
kaj jenas mi
Aŭtoro de mia disa eldiro:
ombro sufokata ĉiuverse
Verkas mi finfine pro la volo
surprizigi dum eblaj legadoj
la kialon de ĉi liberigo
plie min sklavigi
verki verki verki senfine
         per furioza memkavado

quinta-feira, agosto 08, 2013

IMPRESENÇA / MALĈEESTO

mesmo escavado o verso
mesmo o reverso escovado
mesmo o fio do universo
mesmo tendo-me esquivado

mesmo me achando perverso
e não me dando por achado
mesmo que fosse o inverso
mesmo que nem tão inchado

mesmo que toque meu centro
mesmo deixado de fora
mesmo quando mais dentro

mesmo até se fui embora
mesmo quando me concentro
mesmo aqui sou sem agora!

************

Eĉ se kaviĝinta la verso,
eĉ se dorsefrapite,
eĉ se faden'-universo,
eĉ se iele eskapinte,

eĉ se ulo perversa,
eĉ sen kapitulaci’,
eĉ se estus inversa,
eĉ sen inflamo sur mi,

eĉ se la centro tuŝita,
eĉ mem se forlasita,
eĉ mem en hejma kor’

eĉ se irinta for,
eĉ se absorbita,
ĉi sen nun – jen mia kor’!

quarta-feira, julho 17, 2013

AUTOPOIESE / AUTOPOIESIS

preciso soltar-me à vida preciso
saltar à vida
preciso me desamarrar
após soltar as amarras 
amar as flutuações
e nelas me embalançar

preciso ao desamarrar 
de novo me desarmar
preciso que o meu temor
deixe o amor desabrochar
preciso escrever a tese 
que me auto-escreveria:
vida, autopoiese
        eu me sendo poesia

liberiĝi al viv’ mi bezonas 
bezonas mi salti al viv’ 
malligiĝi bezonatas
post ligoforlasado, 
bezonas fluan flotadon
flotpende balancadon

post malligo bezonatas 
mia resenarmiĝad’
mia timo plenbezone
amon lasu tre burĝone
tezoverko min verkonte:
autopoiesis jen viv’
                   estante mi poezi’

segunda-feira, julho 15, 2013

QUINTO TRIÂNGULO / KVINA TRIANGULO


alinhamentossintonia
espíritoverdade
verdade? esta poesia!
veladesvela poeticidade
corpo que habito
habitat do hábito
e do inaudito
sensação e possibilidade
memória do que há
devir fluxo fluir
Espírito, a Luz
acesa na Vida,
emanada do Amor,
essência - e mais nada!

o resto, esta festa
forma do Imanifesto
aqui manifesta
agora emanação...
quadratura do círculo
vínculo sem par
Três pelo Dois sempre Um!

Imanifesto, Ser-só-fluir,
infinitivo impessoal
fruir o comum
e o raro,
Vida na forma: In-formação!

graça do riso, o sério,
seu nome: Mistério!
sobrenome: Incerto
Altíssimo... Aberto...

allinig'agordo
spiritovero
vere? ĉi poezi'!
senvualvuala poezieco
korkorp' loĝata
viviloĝ' habitata 
antaŭneaŭdita kutim'
sensaci' ebleco
memoro pri onto
venonta fluanta flu'
Spirito, Lum'
viva Eklum',
emanata el Am',
esenco - ne plu!

ĉi festo, 
Ne-manifesto
ĉi manifesta
nun... emanado
kvadraturo cirkla
ligo sen par'
Tri tra Du, Unu'!

Ne-manifesto, 
nurflua Esto
nepersona infinitivo 
ĝuo ordinara
ĝuo rara
Vivo forma: 
ena Informo!

graco de rido, gravo,
propranom': Mistero!
familinom': Necerto
Plejalto... Aperto...

terça-feira, julho 02, 2013

ENAMORADO / ENAMIĜINTA


firo a madrugada
insone do poema
firo de morte a lira
até que o canto confira
ao poema a poesia
       transfiro não fico aquém
       e a quem o poema fale
       me transporto e me futuro:
       crio a montanha onde vale
       o novo que configuro.

*******
La sendorman tagiĝon 
de ĉi poem’ vundas mi
liron de mort' vundas mi
ĝis la kanto koncedu
al la poem’ poezion
       transvunde mi ne restas cis
       al kiu la poem' parolu
       mi estontiĝe min transportas:
       kreas mi monton kie valoru
       la novon, kiun mi agordas.