PaPos Nascentes - poéticos, psicoterapia, mentoria

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quarta-feira, maio 16, 2012

EU QUERO, AMIGA!

a lentidão dos astros
ao percorrer o céu da tua pele
eu quero
a volúpia incandescente das lentas lavas
ao deslizar as vertentes do teu dorso
eu quero
a lascívia lenta e lassa de sol-posto
o escalar a colina dos teus cones
quero
a sinfonia calma − oco das grutas −
ao percutir o agogô macio dessa bunda
eu quero
mas sobretudo
a fúria de mil lobos
uivando em descontrole em teu regaço
eu quero
o calor borbulhado de altos-fornos
derretendo o aço dos gestos de equilíbrio
eu quero
o furor trepidante das borrascas incontidas
do teu ser inteiro
eu quero
e novamente
a lentidão dos astros
quero
a volúpia incandescente das lentas lavas
quero
a lascívia lenta e lassa de sol-posto
quero
a sinfonia calma a calma sintonia
do teu ser inteiro
quero
     e quero
          − e quero!

quinta-feira, abril 12, 2012

POEMA DO ESCREVER / POEMO PRI VERKADO



escrevo porque escuro
então clareio
escrevo porque não sei
então nomeio
escrevo porque oculto
na pele da noite
então escavo coço caço
palavras porção imagem
escrevo porque me instigas
com tuas leituras
novas torturas do expressar
escrevo porque me cura
a palavra e sua lavra e procura
escrevo porque me inventa
a invenção que teço
e me aconteço

autor do meu dizer disperso,
sombra sufocada em cada verso,
escrevo enfim porque tô a fim
de surpreender nas possíveis leituras
o porquê dessa libertação
me fazer mais escravo
do escrever
             com a fúria do me escavar
             com a febre de me encontrar



verkas mi pro mallumo
do mi lumas
verkas mi kial ne scias
do mi nomumas
verkas mi pro kaŝo
sub la nokta haŭto
do mi fosas gratas ĉasas
vortojn porcion imagon
verkas mi ĉar min vi instigas
per via legado
novajn esprim-torturojn
verkas mi ĉar min kuracas
la vorto sia esploro kaj kulturo
verkas mi ĉar inventas min
la invento al vi teksata
kaj mi okazas

aŭtoro de mia eldiro disa,
umbro sufokata en ĉiu verso,
verkas mi fine pro mia celo fina:
la surprizigo dum ebla legado
de la kialo de tiu libero
igi min pli sklava
de la verkado
         per la furiozo de mia disfoso
         per la troa febro de mia eltrovo
            

sábado, março 17, 2012

HISTORINHA INFANTIL




pinto peru passarinho
queriam ver perereca
mas esta muito sapeca
apertava o passarinho

e quanto mais apertava
mais gluglu peru fazia
pinto a cabeça esticava
e passarinho cantava
a mais linda melodia
perereca bem no fundo
gostava daquele trio:
vinha um suspiro profundo
na pele um bruta arrepio

perereca arrepiada
faz que pinto enterneça
peru bêbado olhava
pinto encostava a cabeça
no ombro da perereca
que beijava passarinho
o tempo ficando quente
a perereca suada
pede ao peru um golinho
daquela bebida encantada


- brincadeira assim tão boa
alegra o meu coração!
o pinto cabeça erguida
tinha virado pintão
perereca comovida
celebrou a união!

AGUARDANDO RESGATE

há uma luz aguardando resgate
e só você poderá fazê-lo
escondida como se num mundo à parte
aguarda tua ação amor e zelo

a luz desceu fundo nas camadas do teu corpo
e envia sinais e sintomas, hematoma e pus,
como se o espelho refletindo torto
viesse te lembrar: 'eu mesmo ali a pus'

fui soterrando e empurrando mais pra dentro
cristalizando numa dura crosta
mantendo-a separada e esquecida

cansado de sofrer regresso ao lar e ao centro
encontro alguma pérola onde só era ostra
e a luz reencontrada diz seu nome: vida!

MUIPO-OPIUM

muipo se olhava no espelho
não pra ajeitar os cabelos
queria jogar luz nos tornozelos
do ultravioleta ao infravermelho

mesmo tendo cheiro de jasmim
na papoula muipo tinha origem
devolvia enfim à pele seu cetim
alivia antigos males que a afligem

força do centro enfim se recobrava
e a luz central tímida brilhava
revigorando o que antes era ócio

do vício renascia para o viço
o desleixo transmutava-se em serviço:
começava a agir dinamizado o ópio?

SACANINHA

esquivo e safo
meu texto silencia não o grito, a dor:
e tangencia o ponto
fingindo-se abrangência

o texto se distancia
e se desvia da emergência
na hora da verdade
e se esquiva e se evade
e na fuga
largando sinais e pistas
espalha falsas palavras
semeia sinais trocados
mostra indícios camuflados

meu poema instaura círculos
e finge voltar ao início:

     - meu texto é safo e safado!

COM PAIXÃO EM TI

poesia antiga como o tempo
jorra antiga luz só pressentida
nos vislumbres que contemplo
no templo da alma adormecida

a luz na palavra e no exemplo
atravessa a sombra enegrecida
vergasta vendilhões no templo
e restaura a perfeição perdida

vence a caveira no alto calvário
acessa a luz e a verdade ensina
oferece ao beijo e ao tapa a outra face

cristifica-se na cruz solidário
expira e renovado ilumina:
mesmo sem ter morrido em quem renasce?

LUTAR COM PALAVRAS




lutar com palavras é a luta mais vã
 
ajeita o papel que a coisa tá preta

lá vem fogaréu lá vem labareda

prepara caneta pincel ou carvão

o alvo da seta, o teu coração


a seta, poema e leva carinho:

pássaro sem pena sem pouso sem ninho

o poema só acerta se me leva as penas:

só a duras penas que se é poeta


no poema lido a seta o ar o alvo

chego combalido chego são e salvo:

meio desnutrido desdentado e calvo


prefiro essa luta ao tal do divã

não fosse o poema de amasso com a musa

a mão boba na blusa... e eu já tava tantã!

ESCULTURA NO PAPEL

essa pouca cinza fria
(como dizia o Bandeira)
já foi brasa de fogueira
e esfolava e ardia

cinza é cor e cinza é pó
mas cinza vira cinzel
escultura no papel
acorde todo de dó

o poeta vê em si
a dor que sabe ser sua
e como um ator atua
revelando o que há em ti

tu finges não perceber
o aroma que te perfuma:
o que estava a te doer
dói em mim - que a dor é uma

mas a dor em fogo brando
já derrete é cinza fria
fica o longe te lembrando:
a dor que nos consumia
lá se foi pra não-sei-quando
quando virou poesia...

CUMPLICIDADE

de qualquer pouco de tinta
em qualquer espaço branco
escrevo e vejo o que pinta:
por mais que minta sou franco!

não que não diga o que sinta
não que não tenha um espanto
por mais que a verdade minta
mais dúvida ao leitor arranco

quanto mais ponha verdade
e diga tudo o que sinto
mais dúvida o leitor sente

ficção é inverdade?
o leitor sabe que minto!
se não sabe, ele é quem mente!

HORA DE DORMIR?

hora de dormir? então me deito me ajeito
me agito me agito levanto e faço xixi
hora de dormir? então hora de dor
hora de me agitar mijar mijar mugir

hora de dormir? então hora de vulcão
de coceiras de crateras de lavas de erupção
hora de dormir? de escavar de escrever
de coçar de esculpir de cuspir o poema fujão

hora de dormir hora de domar
o insabido desejo de voar
enfim sós alma inquieta

só mais um xixi...
te libero enfim, poeta!
hora de dormir! dormir! dormir!

DE LÍNGUA

a língua mostra a cara: não mostra o quanto esconde
o quanto ela mascara nem o quanto ela responde
a língua é maquiagem e camufla o pensamento
às vezes diz que é aragem quando sopra forte o vento

de neutra ela não tem nada: a língua a gente insufla
e quando se dá por achada é quando muito mais camufla
a língua de cabeça fria apronta cada maldade:
veste linda a ideologia como se fosse a verdade

na poesia ela encanta: canção melodia arpejo
se encontra outra no beijo a vida mesma se encanta
expande a chama o ardor sobe tudo se levanta

já tens amada o vigor do meu amor ereto
o beijo dela responde: logo logo te aquieto!
e a língua me invade a alma e nos acolhe na calma!

POSSE CARNAL

agora já na quarta folha
o poema faz beicinho...
o poeta tem escolha?
ou já tá bem caidinho?

às veze com saca-rolha
às vezes só com jeitinho
voa ao céu como uma bolha
de sabão meu... poeminho

rima se pode ajeitar
métrica deixa pra lá
o que vale é o conteúdo

bem casadinho com o ritmo
dele é preciso ser íntimo:
     - vai que é tua vai com tudo!

TRANSMUTA AÇÃO

poemas vêm não sei de onde
e atormentam como quê
sob a pele algum se esconde
e vai quem sabe aparecer

poesia é fio que não responde
e tenta ludibriar você:
se é leitor perdeu o bonde
se poeta só quer entender

o mistério assim continua:
o tema como a mulher nua
esconde-mostra seu tesouro

o que resulta é pura alquimia:
no cadinho da poesia
meu teu chumbo se faz ouro

HIPOCRISIA

amar algum cabe todo no poema
mesmo que o amor seja todo poesia
que peixe pode escapar à piracema?
que lei me traz o choro quando mais sorria?

que leito não suporta o rio que corria?
que força traz o mote o mesmo tema?
que solução de mim sempre fugia
por mais que sempre e sempre o tal poema?

por que tão feliz mesmo no sofrimento?
por que por mais feliz alguma dor?
e a alegria nesse meu lamento?

e a imensa magia em meio a tanto horror?
e a anestesia o torpor o fingimento?
por que fingir ser tão perguntador?

PALAVRA PERDIDA

suspeito que o soneto agora venha
com a força motriz de uma enxurrada
desmorona o que em mim já não contenho
aos solavancos despenco em disparada

a equipe de resgate exige senha
sem a qual já não pode fazer nada:
um certo desespero se desenha
mas justo a senha vejo desenhada

alguma instância no meu coração
enxerga sem mistério e sem segredo
o que em silêncio tagarela a vida:

o amor essa forma de canção
inunda tudo e desbarranca o medo
soterrando a Palavra assim Perdida...

SIMBIOSE

fabrico meu próprio espaço
num canto que contagia
e meu próprio tempo traço
no compasso da poesia

simulo esforço e fracasso
fingido que se exauria
a fonte em que me renasço
- mergulho que não se adia

recolho no teu regaço
de amada que me sacia
o mote a palavra o laço

a algema que me alforria
o soneto é puro abraço
se nos faço Poesia

ASCENSÃO

que lições
depositam
tua ausência?
que traços
curvam
teus espaços
abraços tão espessos?

que carícia
te lascívia
que frecor te acende?

que incenso
teu calor suspira
e me ascende
                     acende
                               ascende?

NOVES FLORAS

que orvalho
te germina
e nos irmana?
     que arrepio
     timidez
     quando me dás?
que colheita
se perfaz
quando se deita
em nós
o laço dos teus pêlos
elos?
atropelos?
mais? melhor?
     que pistilo
     te instilo
     se tu flores?
se ficares
novos ares!
cores!

PERSEGUIÇÃO E FUGA

ensaio o texto que se esquiva
                         que se esvai:
água derramada causa perdida
meu fôlego indomado é o que resta

em surdina ensaio o gemido
da angústia na pele engastada
tornada rubi rubor desmedido
calor desastrado queimando carícias
absurdamente engavetadas
feito poemas contrafeitos

o poema ensaio em tentativa crônica...
aguda a tentação se faz novela
                                        inacabada
se o poema não passa de ensaio
rabinho entre as pernas
                            de fininho saio!