meio século de convívio
com um não-sei-bem-o-quê
muito pouco de alívio
muito muito de sofrer
cinquenta anos: enganos
desenganos reenganos
a dor por mestre implacável
o mal dito incurável
debocha das medicinas
- dor sem remédio e sem tédio
dor que dói e que azucrina
posso sentir na pele
ardor sem pé nem cabeça
ou secura que revele
tudo o que eu já não conheça:
noites com sono ausente
afogadas num edema
se transformam de repente
num bom mote de poema
a pele e sua escritura
são o papel e a pena
que registram a tortura
da poesia no poema
alopatia isopatia
homeopatia o teu pra sogra
mesmo a naturopatia
fica tudo a mesma droga
que a coceira vem vermelha
ora empola ora arrepia
isto até já se sabia...
em que a dor se assemelha
com a flor da poesia?
Poesia. Contos. Crônicas. Arte terapia. Mentoria (ISOR®). Supere conflitos! Beletro. Poezio. Noveloj. Poezio. Artoterapio. Mentorado. Superu konfliktojn!
sábado, março 17, 2012
SOLSTÍCIO DE DEZEMBRO DE 2012
mal levanto o véu de maia
um rosto de profecia aparece
um tempo-limite se oferece
e a oferenda toca a deusa, que desmaia
seu desmaio lucidez de oferenda
transe que os mistérios desvenda
e fascina a face da simplicidade
e ilumina o tempo se o contemplo
com olhos de transe, desfocado
maia revela a unidade circular das eras
e a claridade ofusca os luminares
acadêmicos repletos de quimeras
e acirra seus disputares
e os calcina na fogueira das vaidades
2012 já nos mirde os calcanhares:
hecatombe? apocalipse? catástrofe?
- nova consciência e nova humanidade!
um rosto de profecia aparece
um tempo-limite se oferece
e a oferenda toca a deusa, que desmaia
seu desmaio lucidez de oferenda
transe que os mistérios desvenda
e fascina a face da simplicidade
e ilumina o tempo se o contemplo
com olhos de transe, desfocado
maia revela a unidade circular das eras
e a claridade ofusca os luminares
acadêmicos repletos de quimeras
e acirra seus disputares
e os calcina na fogueira das vaidades
2012 já nos mirde os calcanhares:
hecatombe? apocalipse? catástrofe?
- nova consciência e nova humanidade!
BIS COITO DOCE
naquela madrugada insone
em cada poro o amor fluía
em cada pêlo a pele já sorria
saciadas já a sede e a fome
cegos nós cegos nós já fomos
naquelas noites já virando dia
devassa a luz se comovia
e nos movia pra dentro do sono
mas, de dentro um sol se impunha
envergonhado tímido perplexo
se irradiava do coração à unha
você e eu mais vivos reconexos
flutuando sétimas alturas
ressucitando gentis os nossos sexos
em cada poro o amor fluía
em cada pêlo a pele já sorria
saciadas já a sede e a fome
cegos nós cegos nós já fomos
naquelas noites já virando dia
devassa a luz se comovia
e nos movia pra dentro do sono
mas, de dentro um sol se impunha
envergonhado tímido perplexo
se irradiava do coração à unha
você e eu mais vivos reconexos
flutuando sétimas alturas
ressucitando gentis os nossos sexos
VÉU DA PROFECIA ou TUDO É MAIA
aos deuses, mesmo etílicos,
pedi que o tempo se contraia
e aceite o beijo do profeta
no intelectual cheio de pose...
piedade pedi para o poeta
ao descompactar o arquivo
- sem qualquer aviso -
do ano dois mil e doze
resultado: uma lacraia
roeu-me a roupa e o véu de maia.
pedi que o tempo se contraia
e aceite o beijo do profeta
no intelectual cheio de pose...
piedade pedi para o poeta
ao descompactar o arquivo
- sem qualquer aviso -
do ano dois mil e doze
resultado: uma lacraia
roeu-me a roupa e o véu de maia.
NAUFRÁGIO SIDERAL
Sinto-me hoje um náufrago sideral, tendo dado com os costados na ilha do meu isolamento (temporário?).
Trago em mim um rádio de ampla potência e a enorme esperança de restaurar-lhe o poder de sintonia milenar, recém-perdido pela ferrugem mental do desuso.
Trabalho humilde e silencioso, por maneira experimental, nos centros psíquicos do aparelho, limpando, calibrando, redirigindo energias, segundo secretíssimo esquema arcano.
Não me perguntem o porquê, mas registro interiormente cores, imagens, sons que anunciam a Luz de uma Aurora inadiável.
Afinal, pássaros voam e isto é tudo!
Trago em mim um rádio de ampla potência e a enorme esperança de restaurar-lhe o poder de sintonia milenar, recém-perdido pela ferrugem mental do desuso.
Trabalho humilde e silencioso, por maneira experimental, nos centros psíquicos do aparelho, limpando, calibrando, redirigindo energias, segundo secretíssimo esquema arcano.
Não me perguntem o porquê, mas registro interiormente cores, imagens, sons que anunciam a Luz de uma Aurora inadiável.
Afinal, pássaros voam e isto é tudo!
POETA SUCUMBE À POESIA
macho: sadio
aliança esquerda ostensiva
no dedo ágil
mas pacato
fêmea: saudável
escamoteadas inúmeras alianças
fala macia seminaudível
audissoprado convite
ao pecado
recusa polida
embora incêndios fúrias e febres
insistência que aflige
a mais santa abstinência
... e, afinal,
noblesse oblige!
aliança esquerda ostensiva
no dedo ágil
mas pacato
fêmea: saudável
escamoteadas inúmeras alianças
fala macia seminaudível
audissoprado convite
ao pecado
recusa polida
embora incêndios fúrias e febres
insistência que aflige
a mais santa abstinência
... e, afinal,
noblesse oblige!
A DÍVIDA
deixei a porta da casa
inteiramente arregalhada
esperando a volúvel poesia
ela chegou porque inexiste o acaso
e desgrenhada e desdentada e suja
tinha nos braços a criança magra
pediu-me pão e leite e afago
e saiu com meio litro e uma bisnaga
- ficou-me a sobra: lodo e engasgo.
inteiramente arregalhada
esperando a volúvel poesia
ela chegou porque inexiste o acaso
e desgrenhada e desdentada e suja
tinha nos braços a criança magra
pediu-me pão e leite e afago
e saiu com meio litro e uma bisnaga
- ficou-me a sobra: lodo e engasgo.
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