sábado, março 17, 2012

SACANINHA

esquivo e safo
meu texto silencia não o grito, a dor:
e tangencia o ponto
fingindo-se abrangência

o texto se distancia
e se desvia da emergência
na hora da verdade
e se esquiva e se evade
e na fuga
largando sinais e pistas
espalha falsas palavras
semeia sinais trocados
mostra indícios camuflados

meu poema instaura círculos
e finge voltar ao início:

     - meu texto é safo e safado!

COM PAIXÃO EM TI

poesia antiga como o tempo
jorra antiga luz só pressentida
nos vislumbres que contemplo
no templo da alma adormecida

a luz na palavra e no exemplo
atravessa a sombra enegrecida
vergasta vendilhões no templo
e restaura a perfeição perdida

vence a caveira no alto calvário
acessa a luz e a verdade ensina
oferece ao beijo e ao tapa a outra face

cristifica-se na cruz solidário
expira e renovado ilumina:
mesmo sem ter morrido em quem renasce?

LUTAR COM PALAVRAS




lutar com palavras é a luta mais vã
 
ajeita o papel que a coisa tá preta

lá vem fogaréu lá vem labareda

prepara caneta pincel ou carvão

o alvo da seta, o teu coração


a seta, poema e leva carinho:

pássaro sem pena sem pouso sem ninho

o poema só acerta se me leva as penas:

só a duras penas que se é poeta


no poema lido a seta o ar o alvo

chego combalido chego são e salvo:

meio desnutrido desdentado e calvo


prefiro essa luta ao tal do divã

não fosse o poema de amasso com a musa

a mão boba na blusa... e eu já tava tantã!

ESCULTURA NO PAPEL

essa pouca cinza fria
(como dizia o Bandeira)
já foi brasa de fogueira
e esfolava e ardia

cinza é cor e cinza é pó
mas cinza vira cinzel
escultura no papel
acorde todo de dó

o poeta vê em si
a dor que sabe ser sua
e como um ator atua
revelando o que há em ti

tu finges não perceber
o aroma que te perfuma:
o que estava a te doer
dói em mim - que a dor é uma

mas a dor em fogo brando
já derrete é cinza fria
fica o longe te lembrando:
a dor que nos consumia
lá se foi pra não-sei-quando
quando virou poesia...

CUMPLICIDADE

de qualquer pouco de tinta
em qualquer espaço branco
escrevo e vejo o que pinta:
por mais que minta sou franco!

não que não diga o que sinta
não que não tenha um espanto
por mais que a verdade minta
mais dúvida ao leitor arranco

quanto mais ponha verdade
e diga tudo o que sinto
mais dúvida o leitor sente

ficção é inverdade?
o leitor sabe que minto!
se não sabe, ele é quem mente!

HORA DE DORMIR?

hora de dormir? então me deito me ajeito
me agito me agito levanto e faço xixi
hora de dormir? então hora de dor
hora de me agitar mijar mijar mugir

hora de dormir? então hora de vulcão
de coceiras de crateras de lavas de erupção
hora de dormir? de escavar de escrever
de coçar de esculpir de cuspir o poema fujão

hora de dormir hora de domar
o insabido desejo de voar
enfim sós alma inquieta

só mais um xixi...
te libero enfim, poeta!
hora de dormir! dormir! dormir!

DE LÍNGUA

a língua mostra a cara: não mostra o quanto esconde
o quanto ela mascara nem o quanto ela responde
a língua é maquiagem e camufla o pensamento
às vezes diz que é aragem quando sopra forte o vento

de neutra ela não tem nada: a língua a gente insufla
e quando se dá por achada é quando muito mais camufla
a língua de cabeça fria apronta cada maldade:
veste linda a ideologia como se fosse a verdade

na poesia ela encanta: canção melodia arpejo
se encontra outra no beijo a vida mesma se encanta
expande a chama o ardor sobe tudo se levanta

já tens amada o vigor do meu amor ereto
o beijo dela responde: logo logo te aquieto!
e a língua me invade a alma e nos acolhe na calma!

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