terça-feira, fevereiro 12, 2013

DORMIR: estágio de morrer?


Dormir é um desses mistérios que vou desvendando aos poucos. Pouco a pouco. Um pouco a cada noite. Às vezes, mesmo de dia, me descubro vivenciando esse mistério. E, do meu ponto de vista, só durmo quando não estou consciente de estar dormindo. Nem acordado. Ou vivo. Ou morto. Que mistério!

Sei que (ainda) não estou dormindo por estar escrevendo este texto. Que eu saiba, não sei escrever quando estou dormindo. E não consegui dormir até agora, porque estive na cama, pronto para dormir, mas a me perguntar o que exatamente é dormir. E que relação tem, se é que tem, com morrer. Refletir sobre como se dá o dormir poderia me dar pistas sobre o morrer? Não o morrer genérico, mas o meu, que um dia vou vivenciar. (Pronto! Começaram os paradoxos...). 

Como sei que (ainda) não estou dormindo? Minha consciência me diz que não estou dormindo quando percebo um eu (meu corpo, digamos, para simplificar) e um não-eu (o colchão, por exemplo, que sei estar embaixo de mim, ou do meu corpo, se prefere). Mas, num dado momento que não sei controlar puft! nem mais meu corpo, nem colchão, nem minha particular biografia, nem pensamentos, emoções, sentimentos, nada! Sumiu tudo o que eu pensava estar sendo... Enquanto durmo, nada disso sequer existiu, ao que parece. Talvez um sonho. Mas, só vou saber se e quando acordar. Sonhos lúcidos só conheço de descrições em livros.  Mas, a mais saborosa receita de pudim num livro não me revela o gostinho de uma mordida no pudim. Mesmo os pudins sonhados.

No tema dos sonhos nem vou entrar – mistério pra outra prosa. Quando não mais estiver consciente de vez, desse meu ponto de vista humano de alguém ou algo supostamente separado de tudo o mais, do colchão e de mim mesmo, possivelmente dirão que morri. Claro que exames objetivos dos que chamo de ‘os outros’ (supostamente vivos) confirmarão que estou morto. Se vou ficar sabendo ou não, quando estiver morto, que então estaria (estarei?) morto, não o sei. Nem quero saber. Pra quê? De prático, vai ser tão útil como tentar saber o sabor de um pudim pela leitura de um livro de receitas... Claro que, por enquanto, ainda posso ler sobre a morte e o pós-morte na Bíblia, no Corão, no Livro Tibetano dos Mortos. São tão interessantes quanto... livros de receitas.

Desde que nasci, venho praticando o ritual de dormir. Quase sempre à noite. Mas há exceções. Assim, venho ensaiando diuturnamente como é morrer. Mas, com todo esse treino, ainda não entrei no jogo pra valer. Não que eu saiba, pois estou escrevendo agora! Por isso, provavelmente, neste instante nem durmo nem estou morto. Por que digo provavelmente? Ora, quem vai saber? Treino é treino, e jogo é jogo! Agora volto pra cama. É hora de treinar. Com licença!


sexta-feira, janeiro 11, 2013

O DENSO E O INCENSO

Paulo Nascentes
quando contactado,
o Princípio que in-forma
a forma que provisório habito
desvela - fragmento - o infinito
que Eu Sou,
revela o denso e o incenso
a pequenez do imenso
                       a imensidão do micro.

quando religado,
o canto que expresso
é sinfonia do universo
espelho que atravesso
mesmo surfando a superfície
profundidade do simples no complexo
simplicidade do nexo
                        e do sentido.

quando integrado,
o Ser em mim se sabe sendo
meu saber se alumbra e cala
cada nota ressoa e resvala
na ressonância de outra nota e nota
que essa outra, nascida do indiferenciado,
conhece o Campo Zero, mas se sabe Um
e entoa o cântico dos cânticos
onde repousa a suspeita do nada
o eco reverbera: há Um! há Um!

quando enamorado,
amante deslumbrado
ante o mistério radical do ser amado
o Ser se refaz perplexo: o seccionado, o sexo
o prenúncio da Unidade:
o Dois se faz Um
e se revela: há Um! há Um!
a diversidade do múltiplo
o disfarce do Um!
Unidade, o nome secreto
para sempre escondido
da simplicidade do nexo
                             e do sentido.

quinta-feira, novembro 29, 2012

EDUCAÇÃO TRANSNACIONAL E EMANCIPAÇÃO HUMANA



Paulo Nascentes[i]
A mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original. (Albert Einstein)
Pode uma educação transnacional nos levar ao reencontro com o Ser essencial que somos – e do qual nos temos afastado? A emancipação humana exige um instrumento de comunicação transcultural como garantia de condições iguais no diálogo. Todos os dias, em mais de 120 países nos cinco continentes, ocorrem encontros internacionais sem a necessidade dos dispendiosos serviços de tradução. Neles, em vez da língua nacional de alguns poucos, a conversa vem na língua internacional neutra Esperanto. Esse encontro entre iguais lembra um simbólico aperto de mão linguístico entre irmãos. Prevalece o que em nós é essência, e não circunstâncias como etnia, língua ou nacionalidade. Queremos ser emancipados e livres entre cidadãos igualmente livres e emancipados? Nesse caso, a educação deve preservar as diversas culturas, mesmo as tribais e minoritárias, o que significa promover, para cada pessoa, o uso da sua língua étnica e o letramento na língua nacional e em uma língua internacional comum. 
  
Sete são os princípios para uma intercompreensão eficaz que nos permita vencer os desafios propostos pela crise atual. Nem a globalização desta ou daquela língua nacional, nem as novas tecnologias de comunicação, nem a adoção de novos métodos de ensino de línguas vão garantir esses princípíos essenciais para a manutenção de uma ordem linguística justa e eficaz.


1. Democracia
Um sistema de comunicação que privilegia algumas pessoas, mas exige das demais enorme esforço, anos a fio, para alcançarem uma capacidade de comunicação inferior à dos falantes nativos é, na essência, antidemocrático. A desigualdade linguística acarreta desigualdades de comunicação em todos os níveis, inclusive no nível internacional. Já aconteceu com você se sentir sem escolha ao negociar em que língua falar com um oriental, por exemplo, e ver que o idioma dito internacional imposto a vocês trouxe enormes dificuldades e complicações na pronúncia, na falta de vocabulário ou no uso de expressões idiomáticas e que a tentativa de comunicação deixou muito a desejar? No máximo, as compras. Jamais uma conversa plena...

        2. Educação transnacional
Como chave para a solução da barreira das línguas, esse o ponto a enfatizar. Toda língua étnica está ligada a determinada cultura e a determinada nação ou conjunto de nações. Por exemplo, quem estuda inglês faz contato com a cultura, a geografia e a política dos países anglófonos, principalmente Estados Unidos e Grã-Bretanha. A educação transmitida por meio de uma língua étnica está necessariamente ligada a determinada perspectiva sobre o mundo. Uma educação transnacional, ao contrário, nos põe em contato com o colorido variado das mais diferentes culturas. Além de ampliar nossa receptividade ao diferente, com a valorização da riqueza das culturas tribais, com seus saberes tradicionais e úteis, ela nos dá meios e modos de enfim nos tornarmos de fato cidadãos planetários. Partilhar uma língua neutra com os que a usam traz a vantagem da participação plena nas ações de organismos do terceiro setor, ongs e entidades que promovem a cultura de paz e a proteção ambiental. Como convidados e mesmo hóspedes dos moradores locais, jamais seremos apenas turistas levados só a lugares sugeridos por agentes de viagem, vendo paisagens pela janela de vãs e ônibus. Ao contrário, ter amigas e amigos prontos a nos mostrar seu dia-a-dia, como se faz na cultura esperantista, em todo o mundo, é muito mais divertido. Posso garantir!

Embora em Educação o alcance de certas medidas só possa ser avaliado após algumas décadas, do ponto de vista individual as vantagens são imediatas, tão logo se possa comunicar em Esperanto. Por se tratar de uma língua mais fácil de aprender do que a maioria das línguas nacionais, a distância entre o aprendizado e o uso fica bem menor. Lógica, simplicidade fonética e gramatical, ausência das temíveis exceções e o vocabulário internacional – que se multiplica com novas palavras formadas com o auxílio de cerca de 30 prefixos e sufixos – isto acelera a aquisição da língua. Em Esperanto você amplia seu vocabulário de forma rápida e divertida. É como combinar blocos coloridos no uso do conhecido brinquedo Lego.
  
        3. Eficácia pedagógica
Pesquisa recente mostra que só uma pequena percentagem dos que estudam uma língua estrangeira são capazes de dominá-la. As dificuldades das línguas étnicas constituem um obstáculo permanente para muitos estudantes. Mas, usufruir do conhecimento de uma segunda língua é fundamental hoje mais do que nunca. Como sair do impasse?

4. Multilinguismo
A educação escolar deveria proporcionar a cada pessoa, independentemente da importância da sua língua materna, uma oportunidade real para dominar uma segunda língua, de forma a conseguir comunicar-se no mais alto nível presencialmente ou pela Internet.

5. Direitos linguísticos
Entre as várias línguas verificam-se desigualdades de poderes, fonte de constante insegurança linguística, ou mesmo opressão linguística, para grande parte da população mundial. Nos anúncios de emprego, é comum a absurda reserva de vagas para falantes nativos de países desenvolvidos. Essas desigualdades destroem as garantias, exaradas em tantos documentos internacionais, de igualdade de oportunidades para todos, independentemente das respectivas línguas maternas.

6. Diversidade linguística
De modo geral, os governos consideram que a diversidade linguística constitui um obstáculo à comunicação e ao desenvolvimento. Ao contrário, essa diversidade é uma fonte de riqueza constante e inesgotável. Por isso, qualquer língua, tal como qualquer espécie de ser vivo, dado o seu valor intrínseco, deve ser protegida e apoiada. Assim, a política de comunicação e desenvolvimento, se não estiver alicerçada no respeito e no apoio a todas as línguas, constitui uma sentença de morte para a maior parte das línguas do planeta.

7. Emancipação do ser humano
Qualquer língua, na medida em que dá aos seus falantes a possibilidade de comunicarem entre si, impede-os de se comunicarem com os outros: é simultaneamente uma libertação e uma prisão. No entanto, existe uma comunidade internacional que vive esses princípios hoje. E, portanto, já dispõe de instrumento linguístico adequado para o exercício da cidadania mundial em bases igualitárias. Os sete princípios aqui apresentados podem ser lidos em sua versão completa em http://pt.wikipedia.org/wiki/Manifesto_de_Praga

Concluindo
O mundo está de olho no Brasil. A grande mídia ignora importantes avanços. Por exemplo, tramita na Câmara, já aprovado no Senado, projeto de lei que propõe o ensino não obrigatório de Esperanto no nível médio. Você sabia? Na justificativa, o professor Cristovam Buarque defende a cultura de paz associada à Língua Internacional desde sua criação, há 125 anos, pelo então jovem humanista Lázaro Ludovico Zamenhof. Afinal, a emancipação humana é direito nosso. Imperialismo cultural e linguístico pertence aos estertores da velha ordem.

Serviço
Esperanto é uma das 14 línguas ensinadas no UnB Idiomas. Mais informações no portal




[i] Professor de Português, Literatura e Esperanto. Aposentado do Instituto de Letras da UnB e examinador de Esperanto credenciado pelo ITK, Universidade de Budapeste.


domingo, novembro 25, 2012

DUFLUGILE

Poesia é algum atrevimento, transgressão cultural, língua retorcida na expressão do belo. Bom-mocismo ela desconhece, tira ouro do nariz, como o Drummond diz.

Primeiro em Esperanto me veio o poema abaixo. Só depois vestiu-se de brasileiro, a doce língua do português herdada, e então a mim se revelou. Parteiro um pouco, poeta assiste o petiz. Que gracinha!, suspira feliz.

Vai daí, o amigo Adonis visita o bebê e, nele inspirado, produz o terceiro da série. Eis:


Duflugile


Mem fragil'
venas subtile
se forgesata
Leĝo universala.

Fulmintuicion
validas racio,
flugas bildaro
kaj ni simile:
         paro jen unuo
         duflugile! (P. N.)



************************** 
Com duas asas

Fragilidade
me traz sinal
se esquecida
a Lei universal.

Zás! a intuição!

e a razão após.
Voam curiós
e nós? igual:
          par - a unidade 
          em asa dupla! (P. N.)

***********************
Duflugile
                 (Adonis Saliba)

Fragilec´
signalas
en forgesa ec´
Ĝi universalas

Fulm! Intuicien!
kaj kialo posta,
birdar´ foresta
kaj ni? Same:
           Pare - unuope
           Flugilduope!


domingo, outubro 14, 2012

ESPERANTO EN UNIVERSITATO DE BRAZILJO


Esperanto en Universitato de Braziljo

Kategorio: Movado; Dato: 2012-08-03 06:36:22

  
 Survoje al kapabligo de instruistoj
Sojle de la baldaŭa fina aprobo de Leĝpropono 6162/2009 de la Brazila Parlamentejo, kiu enkondukas la opcian instruadon de Esperanto en la mezlernejoj, Federacia Universitato de Braziljo-UnB, oficiale aldonis Esperanton al la ceteraj 12 lingvoj tie nun instruataj.
La precipa celo de la 180 hora kurso estas la aldona kapabligo de nunaj instruistoj de fremdaj lingvoj por la instruado de Esperanto.
La kurso estas por la ĝenerala publiko, sed kun speciala programo por lingvoinstruistoj en la tria lerno-semestro. Laŭcele la kursintoj kapablos aprobiĝi en nivelo C1 de la KER- ekzamenoj. La lecionoj okazos en la norda universitata konstruaĵaro, dufoje semajne, lunde kaj merkrede, gvidotaj de Profesoroj Paulo Nascentes kaj Josias Barboza.
Enmatrikuliĝo jam eblas ĉe unbidiomas.net (Ĉe Cursos musmontru sequenciais- Esperanto).
Tiu nuna universitata atingo malfermas vojon al eĉ pli grava alpaŝo por la evoluo de Esperanto-instruado en Brazilo, nome la postdiplomiga kurso por lingvo-instruistoj, kiun sugestis mem la estraro de UnB, kaj kies pritraktado survojas. Espereble oni jam povos anonci ĝin komence de la sekva jaro.
Raportis Josias Barboza

sexta-feira, setembro 21, 2012

SERVOMOMENTO



ebleco esti
esto esti age servi
kun la aliulo
memo via
spegulita
disa en alia
kiu vi estas
spegula malo
skizo pala
Ĉeesto nek via
nek alies
penado nenia
nuda kaj dia
min gastigas ĉe Esto
paca rikolto
- efemerekstazo!

MOMENTO SERVIÇO

ser possibilidade
o ser vir na ação
com o outro
o teu si mesmo
espelhado
espalhado no outro
que és
viés do espelho
pálido esboço
da Presença nem tua
nem do outro
sem esforço
divina e nua
a Presença me acolho
recolho a paz
- êxtase fugaz

RELATIVO

  RELATIVO Sou pura sensação. Seria o mundo assim: prazer em profusão  às vezes tão chinfrim?   Faz sentido pra mim entre tanta vi...